Criando sua liberdade

CODEPENDÊNCIA
NECESSIDADE IMPERIOSA EM CONTROLAR COISAS, PESSOAS, CIRCUNSTÂNCIAS E COMPORTAMENTOS NA EXPECTATIVA DE CONTROLAR SUAS PRÓPRIAS EMOÇÕES

Todo tipo de “amor neurótico” é chamado de codependência. Alguém envolvido em um relacionamento desse tipo tem frequentemente a sensação de Dor, seu discurso é sempre recheado de muito Ressentimento (Mágoa) e tem dentro de si um forte sentimento de Injustiça.

Em um relacionamento neurótico há uma aliança entre os dois: ambos sofrem, mas também têm inúmeras vantagens. Um indivíduo com Medo e baixa Autoestima tenta manter o controle do outro e da situação. A questão é: Quem controla Quem? Controlar alguém implica ter poder sobre ele, e onde Há Poder não há Amor.

Os codependentes criam expectativas muito altas, tanto em relação consigo mesmos como com os outros e quando a pessoa-problema age descontroladamente e as circunstâncias ficam difíceis, sentem grande culpa, achando que não fizeram o suficiente para evitar as crises. São confusas, precisando de conforto, compreensão e informação. São vítimas da situação-problema, lutando para ter algum controle sobre a circunstância incontrolável.

O codependente desenvolve a fantasia de que é ele que tem que suprir a necessidade do outro, esquecendo-se totalmente de si.

A carreira profissional do codependente pode ser utilizada para que se proteja dos sentimentos doloridos (reuniões no escritório, congressos, jantares, prática de esportes, festas, encontros sociais, estudos). Tudo isto procurando o conforto do distanciamento dos conflitos interiores.

A codependência é um processo que envolve a pessoa em amarras emocionais tirânicas, que provocam muito sofrimento. Quando acontece algo doloroso, e o codependente diz a si mesmo que falhou, está na verdade dizendo que tem controle sobre aquele acontecimento. Culpando-se, ele se prende à esperança de que será capaz de descobrir onde está o erro e corrigi-lo, controlando dessa forma a situação e fazendo o sofrimento cessar.

A vida do codependente  é de uma secura emocional extraordinária, fazendo com que sofra o tempo todo uma dor surda e persistente.

A disfuncionalidade força os filhos a assumirem prematuramente responsabilidades que ou não eram suas ou para as quais não estavam capacitados ainda (morte, divórcio, doença prolongada, viagens a trabalho), pode ser outra fonte de geração de codependência. Tais circunstâncias e outras semelhantes forçam as crianças a crescer rápido demais.

O filho adulto de um pai alcoólatra, se casado e com filhos, poderá não se sentir à vontade nem com suas emoções, nem com as emoções dos outros. Poderá ter dificuldades para o desenvolvimento de projetos pessoais e familiares, como o término de um curso, a leitura de um livro, o término da reforma da casa, ou da pintura. Poderá ser difícil manejar seu dinheiro, comprando por impulso, ou não conseguindo um controle adequado das contas a pagar. O relacionamento sexual com sua esposa poderá ser complicado.

A filha de um pai alcoólatra poderá desenvolver a tendência de sempre se envolver com uma pessoa parecida com seu pai, na tentativa de ganhar a velha luta pelo amor, que é revivida quando ela procura estabelecer relacionamentos afetivos com outros homens. Quando casada, tenderá a ter expectativas a respeito do tratamento que gostaria de receber do seu marido, baseadas na atenção que não recebeu de seu pai.

O codependente enfrenta forte tempestade emocional dentro de seu coração, onde grossas chuvas de medo, grandes relâmpagos de raiva, nuvens tenebrosas de culpa e vergonha trovejam, criando inseguranças, fazendo-o procurar ansiosamente o refúgio que precisa. Entre as várias tentativas de controle, a principal é a negação da existência de uma situação problemática. A negação da realidade surge em toda a família disfuncional, na qual todos, de uma forma ou de outra, negam os fatos.

A negação provoca o surgimento de uma aliança entre os membros da família, pela qual todos procuram manter as aparências, como se nada de extraordinário estivesse acontecendo.

O codependente desenvolve o controle porque acredita que sua felicidade depende do comportamento da outra pessoa, que pelo seu problema está impedindo seu bem-estar. Parece que é mais fácil ignorar sua responsabilidade em se desenvolver, enquanto esquematiza, manipula e controla a outra pessoa na expectativa de modificá-la segundo a sua imagem e semelhança. Como isso nunca será alcançado, por mais que se esforce, ficará desencorajado, zangado  e deprimido porque fracassou.

VELHOS CAMINHOS

A filha de um alcoólatra desenvolve uma grande fascinação pelas emoções provocadas por pessoas-problema e uma atração extraordinária pela excitação negativa que essas pessoas proporcionam, sem o que a vida lhe pareceria sem sentido.

O caminho da codependência é cheio de armadilhas e situações de perigo para a caminhada do codependente, que está sempre olhando para cenas ilusórias que lhe escondem a realidade. O surgimento dos papéis é resultado das dificuldades de relacionamento e intimidade enfrentados na convivência com os outros membros da família.

O HERÓI

Característica comum do herói: escolhe uma profissão baseado não em seu próprio desejo, mas para atender o desejo de alguém de sua família. Enfrenta aquilo que não gosta, na esperança de que isso termine por modificar o problema lá de casa.

 O BODE EXPIATÓRIO

O bode expiatório tem um benefício emocional muito importante quando aceita a culpa: recebe a atenção que lhe falta quando todos estão preocupados com os problemas familiares. Se ele for a causa de tudo, acredita estar suprindo a carência afetiva que sente.

O MÁRTIR

Um dos traços característicos do mártir é que se beneficia da autopiedade, reclamando constantemente da situação na qual vive, dizendo-se e aos outros que seria feliz se as coisas fossem diferentes do que são. O mártir acha-se tão bom internamente que nada do que está acontecendo é justo acontecer, que ele não merece isso.

O MASCOTE

Não é que não possa ter bom humor, pois é possível haver seriedade e bom humor ao mesmo tempo. O problema é que ele poderá estar tentando, com a galhofa e as piadas, dizer que não há problemas, ou tentando desviar a atenção, tanto sua como dos outros, da necessidade de enfrentar com coragem os problemas que perturbam a todos. Na maturidade poderá permanecer imaturo.

A CRIANÇA PERDIDA

Procura o tempo todo passar despercebida; ficando quieta em seu canto a maior parte do tempo. Todos gostam dela, pois não exige muita atenção. Esse é seu benefício. Mais tarde tenderá a continuar isolada, com grandes dificuldades em aceitar o envolvimento necessário a relacionamentos afetivos, pois não consegue lidar com a exposição de sentimentos que tais relacionamentos exigem.

Os papéis citados são vivenciados, primordialmente, pelos filhos da família disfuncional. Eles não são rígidos e cada um poderá estar atuando com papéis misturados, exercendo um pouco de dois ou mais papéis.

OS EFEITOS DOS PAPÉIS: A FACILITAÇÃO

FACILITAÇÃO: toda ação executada por outras pessoas que perpetue a situação disfuncional que se pretende resolver com essa ação.

Os codependentes não percebem que atuando conforme os papéis de sua escolha, estão aliviando  a tensão gerada pela situação disfuncional, evitando que a pressão seja dirigida para a pessoa-problema e impedindo que ela se disponha a mudar, pois é a única responsável por resolver a situação.

Não é coisa simples o codependente modificar o seu comportamento abandonando o papel de sua escolha. Ele retira grandes benefícios, quer emocionais quer materiais, da representação (ex. Heroí:aplauso das pessoas; Bode expiatório:alívio de suas culpas imaginárias; Mascote: vê todos rirem, ainda que nervosamente, e isso lhe alivia o coração; Criança perdida: encontra refúgio em suas fantasias e imaginações)

Tais benefícios fazem com que ou não consigam ou não queiram perceber como esse comportamento perpetua a situação crítica que enfrentam.

O codependente anseia muito por uma solução rápida e objetiva. No entanto, as respostas prontas não farão nenhum sentido, pois cada um deverá descobrir dentro de si mesmo o caminho que deve seguir, pois ele está ali, apenas esperando ser encontrado.

Marcos na Trilha do Sol

Há quatro marcos que indicam o caminho correto para a recuperação.

Aceitação da codependência: intelectualmente é fácil compreender, mas emocionalmente não. Forças poderosas foram desenvolvidas dentro do codependente, a fim de conseguir controlar as situações-problema que enfrenta diariamente.

Quando o codependente aprender a tolerar a dor, terá encontrado o segundo marco da estrada.

De um modo geral, o codependente tem cinco formas distintas e alternadas pelas quais tenta aliviar a dor e o cansaço da caminhada.

Negação – não é mentira. É um mecanismo de defesa que filtra as informações devastadoras e previne que o codependente seja sobrecarregado por pressões emocionais que podem ser difíceis de suportar.

Raiva – Não há problema nenhum em sentir raiva. A questão é como vai lidar com a raiva. Portanto, lidar com a raiva significa aceitá-la como natural e aprender como orientá-la para o alvo correto.

Negociação – Não é saudável negociar para se conseguir uma barganha tanto com a situação-problema como com a pessoa-problema, com outras pessoas, consigo mesmo e com Deus. Esta deve ter o objetivo de resolver o problema e deve ser clara em seus termos, dos quais não se deve afastar, para que o resultado desejado aconteça.

Depressão – A depressão é resultante de uma negociação mal sucedida. A depressão é uma expressão emocional do sentimento de perda: tem-se a sensação de que todo o esforço acabou em perda de todas as esperanças. Apesar dos sentimentos desagradáveis que acompanham a depressão, ela pode ser um instrumento capaz de permitir a compreensão de muita coisa a respeito das emoções do codependente. Abre-lhe a porta para a humildade de reconhecer a impotência perante o problema.

A melhor maneira de lidar com a depressão é procurar aceitá-la e perguntar o que é possível aprender com ela, e, se necessário, procurar ajuda adequada.

Aceitação – aceitar algo como mal necessário é o começo de sua eliminação. Não é o abandono da luta, mas o reconhecimento de que a luta existe. Por ela, o codependente atinge uma plena integração entre si, sua história e suas emoções. A aceitação permite escolher o melhor a fazer.

O 3o marco da caminhada em direção ao sol é a percepção de um conflito emocional interno, uma batalha interior que, apesar de suas amplas implicações, costuma passar despercebida. Tanto o amor como o ódio são emoções genuínas que devem ser tratadas como tal, e devem ser integradas em cada um. Somente quando as tiver integrado em si é que o codependente poderá decidir adequadamente quais as ações a tomar a partir do momento que as emoções aparecerem.

O 4o marco que indica um caminhar seguro é o aparecimento de atitudes diferentes das tomadas anteriormente na experiência do codependente, que indicam uma grande mudança nas atitudes durante a caminhada.

Anete L. Blefari
[email protected]
www.sermelhorepleno.com.br

Ref. CARLOS BARCELOS – Criando sua liberdade – Psicólogo e teólogo, especializado em farmacodependência pela Rutgon University ( EUA) – Editora Gente



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