Amor sem consciência produz sofrimento

Quando duas pessoas inconscientes se apaixonam acreditam que encontraram o amor que tanto buscavam. Conforme o relacionamento vai se desenvolvendo, elas vão se tornando ressentidas e intolerantes. No início, uma delas tortura a outra e depois os papéis são invertidos. Os comportamentos que nos conduzem ao sofrimento e à destruição são: reação e controle; expectativas e direitos; concessões; dependência e pensamento mágico. Os sentimentos gerados pelo estado mental da criança ferida, em nível mais profundo, são o medo, choque, vergonha, insegurança, carência, vazio, mágoa, desconfiança e raiva. Quem nunca experimentou esses sentimentos?

Essas emoções nos levam a reações que produzem mais sofrimento e problemas.

Quando estamos no estado mental da criança, reagimos, automaticamente, às experiências e desafios da vida. Mesmo sendo adulta, a pessoa reage de forma infantil às interações com a família e relacionamentos diversos. Quando se trata de par afetivo, um estimula e ativa no outro a sua criança ferida, conduzindo o relacionamento a uma experiência de dor e sofrimento.

Quando não há maturidade emocional, o comando é da criança ferida, com todas as suas dificuldades que, cegamente, interage e reage de forma infantil. Em uma grande maioria dos relacionamentos de casal, encontramos essa disputa entre duas crianças emocionais feridas. A criança reage de forma tão automática porque, para ela, é uma questão de vida ou morte. Ela se sente ameaçada. São as necessidades não preenchidas pelo outro. De uma forma ilusória, no estado mental infantil, a pessoa cria a expectativa de que a outra vai satisfazer suas necessidades, ou que poderá traí-la, magoá-la ou decepcioná-la. A criança projeta no outro a ilusão de que ele vai satisfazer suas necessidades de amor e que o medo e o desconforto vão desaparecer. Esse é o estado natural da criança que traz sentimentos de insegurança e abandono. Dessa forma, a criança se sente injustiçada e responsabiliza o outro por não lhe dar a atenção que deseja e por não fazer as coisas da forma como ela quer. Acontece, também, a submissão que provém da vergonha e do medo. Em resumo, vivemos para o outro e não para nós.

Aprisionados no estado mental infantil, tornamo-nos dependentes, porque exigimos de imediato a satisfação e alívio de nossos desconfortos. Nesse estado, ficamos ansiosos e medrosos e buscamos algo que alivie a tensão interna. Todos têm dependências geradas pela criança emocional, por isso devemos ter respeito e compaixão por nós mesmos. Nesse estado infantil, buscamos alguém que, milagrosamente, nos tire da solidão, do medo e da dor. Nossa tendência é querer mudar o outro para que corresponda às nossas expectativas, para que seja o que queremos. A criança emocional está sempre idealizando, não consegue ver como as coisas são realmente. Sua necessidade é que as pessoas e a vida sejam da forma como acredita que deve ser, para se sentir segura e reorganizar seu mundo interno. Ela vive de ilusões e perde o momento presente da vida.

Esses sentimentos têm raízes profundas em nosso inconsciente, provenientes de experiências anteriores, por isso não os percebemos. Eles vão nos aprisionando e tirando nossa espontaneidade e liberdade. Em consequência, sentimo-nos envergonhados, desvalorizados, inferiorizados, tristes, raivosos e desconfiados. Não nos sentimos preenchidos e autossuficientes, mas vazios e, desesperadamente, necessitados de alguém que nos faça feliz e completo. Buscamos externamente, de forma compulsiva, nosso bem-estar interior.

E, qual o melhor tratamento para nossa criança emocional ferida?

Meditação é um remédio muito eficaz. Na meditação, podemos observar nossa criança emocional em todos os aspectos da vida, para entender as dificuldades de relacionamento, a baixa autoestima e os diversos padrões de comportamento.

Auto-observação – obter a capacidade de se auto observar e poder compreender as diversas manifestações da criança emocional. Observar como somos estimulados a comportamentos automáticos e mecânicos. Apenas observar, sem qualquer crítica e julgamento. A criança emocional não vai desaparecer, mas não vai mais reagir com toda a sua força em nossos comportamentos.

Colocar a intenção de compreender o estado mental da criança emocional, para entender o porquê de nossas reações mecânicas e automáticas.

Eliminar o julgamento e a crítica.

Explorar a criança emocional, caso necessite, busque ajuda profissional.

Praticar estado de presença, rotineiramente. Dessa forma, estaremos no comando e podemos perceber  quando a criança emocional ferida quer se manifestar.

 

Referência: O Amor não é um jogo de criança – Krishnananda

Dica: filme “Lua de Fel” de Roman Polanski

 

Anete L. Blefari
[email protected]
www.sermelhorepleno.com.br



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